domingo, 27 de maio de 2007

A castidade com que abria as coxas




A castidade com que abria as coxas
e reluzia a sua flora brava
Na mansuetude das ovelhas mochas,
e tão estreita, como se alargava.

Ah, coito, coito, morte de tão vida,
sepultura na grama, sem dizeres
Em minha ardente substância esvaída,
eu não era ninguém e era mil seres
em mim ressuscitados

Era Adão,
primeiro gesto nu ante a primeira
negritude de corpo feminino

Roupa e tempo jaziam pelo chão
E nem restava mais o mundo,
à beira dessa moita orvalhada,
nem destino.

Carlos Drummond de Andrade

2 comentários:

Gonçalves disse...

Carlos Drummond de Andrade

Louvo o Padre, louvo o Filho,
O Espírito Santo louvo.
Isto feito, louvo aquele
Que ora chega aos sessent'anos E no meio de seus pares Prima pela qualidade:
O poeta lúcido e límpido
Que é Carlos Drummond de Andrade.

Prima em Alguma Poesia,
Prima no Brejo das Almas
Prima em Rosa do Povo,
No Sentimento do Mundo.
(Lírico ou participante, Sempre é poeta de verdade
Esse homem lípido e limpo
Que é Carlos Drummond de Andrade).

Como é o fazendeiro do ar, O obscuro enigma dos astros Intui, capta em claro enigma. Claro, alto e raro. De resto Ponteia em viola de bolso Inteiramente à vontade
O poeta diverso e múltiplo
Que é Carlos Drummond de Andrade.

Louvo o Padre, o Filho, o Espírito Santo, e após outra Trindade
Louvo: o homem, o poeta, o amigo Que é Carlos Drummond de Andrade.

(Manuel Bandeira)

Bruno Villela disse...

O que é mais louco neste poema é que foi escrito por um homem.