domingo, 3 de junho de 2007

“Foi então que levantou a cabeça e fitou o ar com alguma intensidade. É que alguma coisa branda e incidiosa se misturara ao seu sangue, e ela se lembrou de como se falava de amor como de um veneno, e concordou submissa. Era alguma coisa adocicada e cheia de mal estar, que ela, conivente, reconheceu com suavidade suplicada como uma mulher que apertando os dentes reconhece com altivez o primeiro sinal de que a criança vai nascer. Reconheceu, pois, com alegria e impassível resignação, o ritual que se fazia nela. Então suspirou: era a gravidade pela qual esperara a vida inteira. (...) Era alguma coisa que seria amor ou não seria. Caberia a ela, entre milhares de segundos, dar a leve ênfase de que o amor apenas carecia para ser”

(Clarice Lispector, A maçã no escuro)

Nenhum comentário: